Tradução

"O meticuloso exercício da escrita pode ser a nossa salvação" (Isabel Allende, em Paula)

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Volta no tempo

     Estar em Paraty me trouxe alguns traumas. Numa cidade do porte de Niterói (500 mil habitantes), mulheres podem sair à rua sozinhas para fazer compras, andar de táxi, ir ao cinema e até mesmo sentar-se um bar ou restaurante para um drinque ou uma refeição, sem que ninguém se preocupe com quem ela é, o que está fazendo, onde está o marido dela. Custei a perceber que aqui não deveria agir assim. Paraty tem um falso aspecto cosmopolita enganoso aos não iniciados. Litorânea, tem o mesmo espírito de uma cidadezinha do interior, no estilo de vida e na mentalidade de seu povo simples. Mulher aqui não anda de táxi sozinha (até anda, mas só com um taxista de confiança). Usuários de táxi, aqui, excetuando-se os turistas, só uma parcela ínfima da população, geralmente pessoas vindas de outras cidades, ou nativos mais abonados.
      Não foram poucas as vezes em que suspeitei não estar sendo bem vista por fazer em uma cidadezinha de 25 mil habitantes o que fazia em metrópoles como o Rio e Niterói: tomar um cafezinho numa cafeteria (certa vez, entrei em um restaurante na divisa do Centro Histórico e pedi meia garrafa de vinho, que tomei sozinha), comprar pão na padaria perto da Rodoviária, aproveitando que fora comprar passagens para o Rio, entrar em uma lan house (no condomínio onde moramos a internet é lenta e confusa ou simplesmente não pega), almoçar num restaurante a quilo, quando A. vai viajar. Todas atitudes comuns e necessárias na cidade grande. Aqui, é melhor abster-se dessas coisas. Saía muito em Niterói, sozinha ou com A., e aqui mantive esses hábitos. Até há pouco tempo.
       Difícil de acreditar, mas é assim. O jeito é andar sempre pela cidade acompanhada pelo A., como se estivéssemos no século XIX.  

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