Sei que a maioria dos registros deste blog não são de visitantes reais, mas apêndices virtuais de vários spams, hackers ou o que seja. Não posso crer (entre outros motivos), que esteja sendo lida por pessoas de países como Alemanha, Polônia, Holanda, Estados Unidos, Reino Unido e até Ucrânia e China, entre muitos outros! Pesquisando, descobri que existem sites maliciosos, especializados em registros falsos. Pobre de quem clicar no link deixado on line por esses sites: terá seu blog invadido por mensagens comerciais ou pornográficas, que sei eu! Percebo, ao mesmo tempo, que, ao contrário do que seria de se esperar, Portugal só entrou, em milhares de visitantes, com dois ou três. Seria de se esperar que países de língua portuguesa fossem a maioria das visitas - se estas fossem reais.
Para comprovar essa tese, e por acreditar que tenho no máximo dois ou três leitores de verdade (que vexame!), se é que tantos, peço a quem visitar este blog que deixe uma mensagem, via comentários. Isso porque pretendo desativá-lo. Obrigada.
Vida em Paraty
Lugares para onde fiquei fui
Postagens populares
Tradução
"O meticuloso exercício da escrita pode ser a nossa salvação" (Isabel Allende, em Paula)
segunda-feira, 29 de setembro de 2014
segunda-feira, 22 de setembro de 2014
Máquina zero
Justiça seja feita: a nova equipe terceirizada que poda as árvores da cidade e arranha os canteiros com máquina zero, deixando-os literalmente raspados, é super-eficiente. A equipe anterior, talvez por já estar em final de mandato, já não estava dando conta do recado: um mato viçoso tomava conta das margens de estradas e dos canteiros das ruas e praças e o capim colonião crescia à vontade, deixando os bairros com um ar desmazelado. Essa gente nova corta o mato tão rente que a raspagem dura semanas e semanas. Que bom! A cidade ganhou um ar mais limpo e arrumado. Mas não precisava exagerar.
O pessoal estava espalhado pelos canteiros junto à ponte amarela, na beira-rio, decepando com fúria, a serra e facão, grossos galhos das árvores no gramado adjacente. Não, os galhos não estavam "prejudicando a fiação elétrica", a desculpa usual. Não havia nenhum poste à vista naquele local da beira-rio. Sob o céu azul, somente o toque lento do vento nas folhas das árvores. E no entanto... lá se iam os galhos, um a um, caindo desnecessária e desastradamente. A. e eu caminhávamos de mãos dadas pela calçada, quando chamei a atenção dele para a equipe. Eu avancei, num gesto impulsivo, ignorando seu protesto:
- Deixa pra lá, você não vai falar com eles...
Mas eu já o deixara para trás, falando sozinho.
- Desculpem, por que vocês estão fazendo isso?
- É a poda, disse um.
- Mas não veem que estão matando as árvores?
Eles pararam o trabalho.
- Nós temos ordens pra fazer a poda.
- Mas essas podas sem necessidade tiram a força das plantas!.
Eles se entreolharam.
- Foi o engenheiro quem deu ordem para podar, pra planta ficar mais forte. Ele deve saber o que está fazendo, estudou pra isso, disse outro.
- É o contrário. Isso enfraquece as plantas, elas acabem definhando e morrendo. Quatro podas em dois meses...isso não é necessário, é um exagero...
- Então a senhora vai lá e fala com o engenheiro... ele sabe o que está fazendo!
Perdi a paciência, que já não era muita.
- Engenheiro? E quando é que um engenheiro entende de meio ambiente?
A. me puxou pelo braço. Concordei: como eles apenas obedeciam a ordens, estavam cobertos de razão.
O pessoal estava espalhado pelos canteiros junto à ponte amarela, na beira-rio, decepando com fúria, a serra e facão, grossos galhos das árvores no gramado adjacente. Não, os galhos não estavam "prejudicando a fiação elétrica", a desculpa usual. Não havia nenhum poste à vista naquele local da beira-rio. Sob o céu azul, somente o toque lento do vento nas folhas das árvores. E no entanto... lá se iam os galhos, um a um, caindo desnecessária e desastradamente. A. e eu caminhávamos de mãos dadas pela calçada, quando chamei a atenção dele para a equipe. Eu avancei, num gesto impulsivo, ignorando seu protesto:
- Deixa pra lá, você não vai falar com eles...
Mas eu já o deixara para trás, falando sozinho.
- Desculpem, por que vocês estão fazendo isso?
- É a poda, disse um.
- Mas não veem que estão matando as árvores?
Eles pararam o trabalho.
- Nós temos ordens pra fazer a poda.
- Mas essas podas sem necessidade tiram a força das plantas!.
Eles se entreolharam.
- Foi o engenheiro quem deu ordem para podar, pra planta ficar mais forte. Ele deve saber o que está fazendo, estudou pra isso, disse outro.
- É o contrário. Isso enfraquece as plantas, elas acabem definhando e morrendo. Quatro podas em dois meses...isso não é necessário, é um exagero...
- Então a senhora vai lá e fala com o engenheiro... ele sabe o que está fazendo!
Perdi a paciência, que já não era muita.
- Engenheiro? E quando é que um engenheiro entende de meio ambiente?
A. me puxou pelo braço. Concordei: como eles apenas obedeciam a ordens, estavam cobertos de razão.
terça-feira, 16 de setembro de 2014
Fim de semana
Fim de semana agitado, com a visita de irmã e amiga, vindas de Niterói. Sexta, sábado e domingo, percorremos as ruas de Paraty como se fosse a primeira vez. Pessoas sentem saudades da cidade, assim como nós, que viemos para cá sete ou oito vezes, antes de resolver pela mudança. Mesmo antes de me aposentar, já estávamos nos hospedando aqui, pelo menos uma vez por ano, para a Flip. Voltamos mais algumas vezes. Assim como nós, quem nos visita sempre volta e, pelos olhos deles, vemos a cidade com olhos de novidade. As quatro horas e meia de viagem de ônibus (climatizado e macio) não são obstáculo, pelo menos para mim. A não ser quando a viagem se estende por seis a sete horas, devido a congestionamentos, geralmente perto do Rio, como aconteceu com a irmã, ontem.
Eu não saberia postar essas coisas do dia-a-dia no Facebook. Para mim, isso já é um excesso de exposição de intimidade. No Facebook, eu seria lida. Talvez por isso tenha preferido escrever este diário, tão oculto no Blogger como se o escondesse embaixo da cama, como fazia na adolescência.
Eu não saberia postar essas coisas do dia-a-dia no Facebook. Para mim, isso já é um excesso de exposição de intimidade. No Facebook, eu seria lida. Talvez por isso tenha preferido escrever este diário, tão oculto no Blogger como se o escondesse embaixo da cama, como fazia na adolescência.
domingo, 14 de setembro de 2014
terça-feira, 9 de setembro de 2014
Montanhas
Fiquei surpresa quando o professor de francês disse que as montanhas que vemos cercando Paraty (da Serra da Bocaina, que não me canso de admirar) são morros ou colinas, e não montanhas. Foi surpreendente ver a questão sob esse aspecto. Para mim, a Serra do Mar é uma formação montanhosa (e não simples morros), que corre ao longo da costa brasileira, entre o Espírito Santo e o Sul de Santa Catarina, da qual fazem parte conjuntos que recebem denominações regionais, como Serra da Mantiqueira, Serra da Bocaina, Serra das Araras... Só que, para um europeu (ele é belga), montes com algumas centenas, ou mesmo mil metros de altura, são simples colinas, em comparação com portentos como o Everest...
terça-feira, 2 de setembro de 2014
Ventania
Acordei lá pelas três da madrugada. Como descrever tal escuridão? inimaginável na cidade grande, onde a iluminação noturna desbanca a das estrelas. Do quadrado do quarto meu olhar se alongou para as venezianas da porta, buscando luz. Lá fora corria um barulho estranho, como galhos rotos a dançar num redemoinho, ou como gemidos de árvores caindo. Tive medo. O que estava acontecendo? Reprimi a vontade de me levantar e ir até a porta da varanda defronte ao quarto, para pesquisar o acontecido. E se ainda estivesse acontecendo? Desisti. Talvez um temporal fora de hora, se é que temporal tem hora.
Pela manhã, o pátio do condomínio era um tapetão de folhas e galhos. A área cimentada na parte de trás da casa também, como se gigantes houvessem se divertido à noite, a jogar galhos e folhas uns nos outros, espalhando-os pelos quintais. Com vassouras e pás, as crianças faziam montinhos de folhas no pátio, numa tentativa de arrumação, já que o zelador não viera, sua casa, num bairro distante, fora destelhada e ele estava contabilizando as perdas. Nos chãos, nem uma só gota de chuva. Tempestade seca! Do outro lado da rua, um redemoinho isolado destelhara a estrutura construída há pouco tempo no terreno em frente, vizinho ao condomínio Manacá, onde havíamos morado antes de ir para o C'est la vie.
Seguiu-se, previsivelmente,i a escuridão virtual, ou seja, faltou energia até as 18 horas. Hoje, recebo e-mail da Avaaz, que organiza campanhas visando a ações globais pelo clima. Apoio essas campanhas (aliás, no próximo dia 21 de setembro, toda a comunidade Avaaz participará de uma manifestação no Rio, na esperança, creio eu que vã, de que o governo tome providências). Segundo links postados pela própria Avaaz, que remetem a matérias sobre o assunto de importantes órgãos de imprensa brasileiros e estrangeiros, o aquecimento global é irreversível. Pode-se, no máximo, tentar minimizar seus efeitos, com ações de proteção de populações. Eventos extremos como tornados, furacões, tempestades e terremotos vão se tornar a cada dia mais frequentes.O que passou sobre Paraty foi um projeto de tornado, para nos lembrar de nossa fragilidade e de como temos abusado de nosso pobre planeta.
Pela manhã, o pátio do condomínio era um tapetão de folhas e galhos. A área cimentada na parte de trás da casa também, como se gigantes houvessem se divertido à noite, a jogar galhos e folhas uns nos outros, espalhando-os pelos quintais. Com vassouras e pás, as crianças faziam montinhos de folhas no pátio, numa tentativa de arrumação, já que o zelador não viera, sua casa, num bairro distante, fora destelhada e ele estava contabilizando as perdas. Nos chãos, nem uma só gota de chuva. Tempestade seca! Do outro lado da rua, um redemoinho isolado destelhara a estrutura construída há pouco tempo no terreno em frente, vizinho ao condomínio Manacá, onde havíamos morado antes de ir para o C'est la vie.
Seguiu-se, previsivelmente,i a escuridão virtual, ou seja, faltou energia até as 18 horas. Hoje, recebo e-mail da Avaaz, que organiza campanhas visando a ações globais pelo clima. Apoio essas campanhas (aliás, no próximo dia 21 de setembro, toda a comunidade Avaaz participará de uma manifestação no Rio, na esperança, creio eu que vã, de que o governo tome providências). Segundo links postados pela própria Avaaz, que remetem a matérias sobre o assunto de importantes órgãos de imprensa brasileiros e estrangeiros, o aquecimento global é irreversível. Pode-se, no máximo, tentar minimizar seus efeitos, com ações de proteção de populações. Eventos extremos como tornados, furacões, tempestades e terremotos vão se tornar a cada dia mais frequentes.O que passou sobre Paraty foi um projeto de tornado, para nos lembrar de nossa fragilidade e de como temos abusado de nosso pobre planeta.
segunda-feira, 25 de agosto de 2014
Trem noturno
O filme começou a ser aplaudido assim que desceram os créditos. Estávamos na Casa da Cultura, assistindo a Trem noturno para Lisboa, do diretor dinamarquês Bille Augusto, no domingo (ontem). Se tivesse lido antes a crítica da Folha de S. Paulo (de Cássio Starling Carlos), talvez não tivesse ido. Felizmente não a li. Para Starling, "o filme é uma adaptação sem brilho do livro (de Pascal Mercier)", uma leitura "bem feita, mas sem brilho e sem vida", do processo de decadência da ditadura de Salazar. Ao contrário do crítico, achei o filme sóbrio, consistente, com atuações memoráveis de Jeremy Irons e Charlotte Rampling, sem falar em Martina Gedeck, cujo personagem desencadeia toda a trama.
O roteiro acompanha um velho e solitário professor que certa noite, salva da morte uma jovem portuguesa (Martina Gedeck), quando esta tentava atirar-se de uma ponte em Berna, na Suíça. Inicia-se então uma jornada que o afasta de sua vida regrada e um tanto melancólica. Ele deixa para trás seus alunos, tendo como ponto de transição o momento em que leva a desconhecida para a escola e faz com que ela espere por ele sentada, em plena aula, sob os olhares perplexos dos alunos para aquela figura de cabelos desgrenhados e molhados de chuva. Quando a jovem foge, deixando no bolso do casaco do professor o livro de um autor português desconhecido, ele decide ir a sua procura em Lisboa, driblando os telefonemas assustados do diretor da escola, que perguntava sobre seu paradeiro.
Procurando saber mais sobre a desconhecida (e sobre o autor do livro), o professor entra casualmente em contato com jovens participantes da Resistência, no momento político do final da ditadura de Salazar, numa saga de heroísmos e traições. Para Starling, o filme não decola porque o roteiro não conseguiu libertar-se do texto literário. Em minha opinião (de simples espectadora), a intenção não foi aprofundar-se nos subterrâneos da resistência a Salazar, mas sim acompanhar uma busca pessoal. Questão de ponto de vista. O público gostou, aplaudiu (quantos filmes podem dizer isso?). Sair do cinema com uma sensação de gratidão e completude não é pouca coisa.
O roteiro acompanha um velho e solitário professor que certa noite, salva da morte uma jovem portuguesa (Martina Gedeck), quando esta tentava atirar-se de uma ponte em Berna, na Suíça. Inicia-se então uma jornada que o afasta de sua vida regrada e um tanto melancólica. Ele deixa para trás seus alunos, tendo como ponto de transição o momento em que leva a desconhecida para a escola e faz com que ela espere por ele sentada, em plena aula, sob os olhares perplexos dos alunos para aquela figura de cabelos desgrenhados e molhados de chuva. Quando a jovem foge, deixando no bolso do casaco do professor o livro de um autor português desconhecido, ele decide ir a sua procura em Lisboa, driblando os telefonemas assustados do diretor da escola, que perguntava sobre seu paradeiro.
Procurando saber mais sobre a desconhecida (e sobre o autor do livro), o professor entra casualmente em contato com jovens participantes da Resistência, no momento político do final da ditadura de Salazar, numa saga de heroísmos e traições. Para Starling, o filme não decola porque o roteiro não conseguiu libertar-se do texto literário. Em minha opinião (de simples espectadora), a intenção não foi aprofundar-se nos subterrâneos da resistência a Salazar, mas sim acompanhar uma busca pessoal. Questão de ponto de vista. O público gostou, aplaudiu (quantos filmes podem dizer isso?). Sair do cinema com uma sensação de gratidão e completude não é pouca coisa.
Assinar:
Postagens (Atom)