Tradução

"O meticuloso exercício da escrita pode ser a nossa salvação" (Isabel Allende, em Paula)

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Marimbondos

  
      Alguns meses depois de nossa chegada, descobrimos, acoplada a uma das traves do teto da varanda do escritório, no piso superior, uma estrutura arredondada e fechada, cor de terra, semelhante a um ninho de joão-de-barro ou cupinzeiro. Há tempos, marimbondos entravam sorrateiramente no escritório, no segundo andar, mas não ligávamos: era só espantá-los e pronto. Só que a casa deles era ali, bem debaixo de nossos narizes e a origem daquele tráfego inusitado era aquela estrutura suspensa no teto da varanda. Não demorou muito para que em torno dela girassem dezenas de insetos. Pânico! Como a sede da Defesa Civil fica no bairro, a dois ou três quarteirões apenas, fomos lá. Não, não podiam nos ajudar. Era preciso chamar os bombeiros. Fiquei meio vexada por incomodá-los por tão pouco, mas não havia jeito. Em vez de zangados, porém, eles chegaram solícitos, um tenente e dois ou três soldados e rapidamente, educadíssimos, informaram que atear fogo ou jogar inseticida no ninho (como haviam nos aconselhado) era proibido pelo Ibama.
       Mais tarde, ao pesquisar o porquê da proibição, soube que esses insetos, por serem predadores naturais de pragas agrícolas, são protegidos pela legislação ambiental. Marimbondo, na verdade, é o nome  dos himenópteros, popularmente conhecidos como vespas. No Brasil, são cerca de 500 espécies, que pertencem a três famílias distintas: Vespidae, Pompilidae e Sphecidae. Uma dessas espécies é conhecida como Paulistinha (Polybia Paulista), que imagino serem os que foram lá pra casa, por uma simples questão territorial.  É que entre Paraty, RJ e Cunha, SP, há apenas 20 km de distância. Chega-se a Cunha por uma estradinha estreita, tortuosa e íngreme, varada de abismos, que há anos tentam asfaltar, sem sucesso, pois, de acordo com a legislação ambiental, o asfaltamento só traria prejuízos à fauna e flora locais. A coisa está rolando no Ministério Público há uns 20 anos, mas isso é uma outra história.
      Os bombeiros voltaram às oito e meia da noite do dia seguinte, entrando na ruazinha estreita, ladeada de casas, como se fossem apagar um tremendo incêndio.  Pensei: de que adianta você tentar ser discreta e low profile? O carro adquiria uma tremenda visibilidade àquela hora, no silêncio da noite. Só que ninguém saiu de casa para ver e eles foram muito discretos. Um deles, vestindo uniforme de apicultor, de viseira e luvas, galgou a balaustrada da varanda e, firmemente preso pelas pernas por um colega, envolveu num saco plástico aquele globo terrestre coberto de insetos, com todo o seu conteúdo, fechou-o e levou-o para fora. Aplaudi silenciosamente, agradeci e, ao levá-los à porta, vi que ninguém sequer abrira a janela para saber o que teria levado os bombeiros ao condomínio àquela hora da noite.
      Houve mais dois episódios com marimbondos. Contarei depois.      



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