Tradução

"O meticuloso exercício da escrita pode ser a nossa salvação" (Isabel Allende, em Paula)

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Outra vez

      Da terceira vez foi terrível e bem anti-ecológico. Não fazia um mês do segundo episódio dos bombeiros. Assistíamos à TV, no escritório, quando um marimbondo cruzou a tela da TV. Não acreditei! De novo? Foi imediatamente expulso, mas, nos dias subsequentes, vieram muitos mais. Seu voo era rasante, esquivo, fugidio, esquisito. Estava claro que o novo ninho estava... dentro do próprio escritório! Paniquei. Não, eu não iria chamar os bombeiros de novo, mas a situação precisava ser contornada com rapidez, antes que eles tomassem conta de toda a casa. Seguindo seu rumo desengonçado, puxei a cômoda de madeira que fica no ângulo entre o sofá e a parede oposta à varanda. Quase caí pra trás. No espaço entre a lateral do móvel e a parede, de cerca de 15 centímetros, encaixava-se, coberto de insetos, outro ninho.
      A. chamou um dos um dos rapazes contratados para construir as casas do condomínio. Paratiense nativo, ele poderia dar uma opinião abalizada. Veio depois do trabalho e, ao ver o ninho, sacudiu a cabeça, desolado.
      - Só botando fogo ou inseticida, decretou.
      Fogo, é claro, era impensável. Também não passava pela minha cabeça chamar os bombeiros novamente, mas a situação requeria urgência. Imaginei, ideia de algum artista plástico maluco, uma instalação surrealista: suspensos às traves do teto do banheiro, quarto, cozinha, dezenas de globos cor de terra, pretos de marimbondos e nós, o público, embaixo, interagindo com a obra de arte, vestidos de roupas de apicultor! Para evitar esse futuro catastrófico, era preciso tirar aquilo do escritório. De qualquer jeito. Já acima dos 60, era tarefa difícil para nós. Para encurtar a história, nosso amigo da obra teve permissão para usar o inseticida. Cheia de vergonha, admito essa atitude anti-ecológica, mas não havia outro jeito: éramos nós ou eles! Dezenas de insetos voaram desesperados de trás da cômoda e saíram pela porta da varanda. Muitos morreram, mas a maioria fugiu para o ar livre, rumo à mata.
      Varri os que ficaram pelo chão, sentindo-me péssima. Sou daquelas pessoas que guardam as sementes das frutas consumidas para plantá-las ou pelo menos jogá-las nas praças ou na beira de estradas, na esperança de que se tornem lindas árvores. Fico louca quando vejo as podas excessivas feitas pelas Secretarias de Obras, Meio Ambiente ou o que seja, das prefeituras, sob pretexto de "fortalecer" árvores e arbustos. O resultado é exatamente o oposto: elas se enfraquecem e, em casos extremos, acabam morrendo, sem forças para lançar novos brotos. Em minha opinião, falta educação ambiental nas escolas, aquela mais básica, do dia-a-dia, que ensina a não arrancar nem uma folha, quebrar nenhum galho, ou, no caso do poder público, eliminar de vez as malfadadas podas, a não ser em casos de absoluta necessidade.  A coisa começa por aí.      

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