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"O meticuloso exercício da escrita pode ser a nossa salvação" (Isabel Allende, em Paula)

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Espirradeiras

      Estão acabando com as espirradeiras da Av. Roberto Silveira! Aos poucos, através de podas sucessivas, elas estão definhando e deixando de florescer. Não por acaso, acabei de ler, no blog do jornalista Jailson da Paz, do Diário de Pernambuco, seu espanto com o corte das espirradeiras do canteiro central da rodovia PR-60, na região do Cabo, em Recife. Com dois metros de altura, elas ficaram reduzidas, com a poda realizada pela prefeitura, aos caules de apenas 50 cm. Constato que a falta de informação, aliada à mania da poda e ao desprezo que os brasileiros têm pelo verde, é  generalizada. No caso da Av. Roberto Silveira, no centro de Paraty, as podas  não chegam a esse ponto, mas são constantes e, longe de fortalecer a planta, acabam por destruí-la.
      Para quem não está ligando o nome à planta, espirradeiras são comuns nas ruas do Rio. Suas flores róseas, brancas e vermelhas formam um conjunto muito bonito, Se deixados crescer à vontade, os arbustos alcançam de três a cinco metros de altura. Seu nome científico é Nerium oleander e o estranho é que se trata de uma planta extremamente tóxica: a ingestão de uma única folha pode provocar a morte de um homem de 80 quilos. Mas, aqui pra nós, alguém já ouviu falar em alguém que tenha morrido por comer espirradeiras? Virou paranóia coletiva quando, há alguns anos, um grande jornal do Rio publicou uma matéria dando ênfase à sua toxicidade. Bastou isso para que uma enxurrada de cartas de leitores exigisse sua erradicação imediata. Felizmente, ninguém deu ouvidos e elas continuam enfeitando as calçadas.
     Poda indiscriminada, como é praticada no Brasil, só serve para enfraquecer as plantas, fazendo rarear as flores (a poda é uma agressão máxima, porque, na tentativa de lançar novos galhos para substituir os cortados, a árvore ou arbusto deixa de produzir flores, enfraquece e morre}. É o caso das espirradeiras existentes no canteiro central da avenida principal, em Paraty. A cada dia que passa, em vez de crescer e florescer em toda a sua pujança, elas diminuem de tamanho, lançando poucas flores e não cumprindo sua função de embelezamento. Para quê plantá-las, então? Assim se justificam as podas: 1) "Os galhos encostam nos fios da rede elétrica e podem causar um curto-circuito", ou 2) "A poda é para fortalecer a planta". No caso das espirradeiras, não cabe a primeira justificativa: seus galhos estão na média de 3 metros de altura e não alcançam a rede elétrica. Quanto a fortalecer a planta, o efeito é justamente ao contrário!
      Cidades como Paris, Londres, Amsterdam, têm verdadeiros jardins, belíssimos e bem-cuidados. Em nosso país, a preocupação das prefeituras é apenas de cortar o mato à beira das estradas, a grama dos canteiros e podar sem critério algum. Não seria inviável que cada prefeitura enviasse funcionários dos Parques e Jardins ao exterior para cursos de jardinagem. Há alguns anos, a Prefeitura do Rio fez algo semelhante com os seus calceteiros: mandou-os aprender em Portugal como instalar corretamente pedras portuguesas nas calçadas. Não se trata de uma simples "maquiagem", porque a boa aparência das ruas é um atestado de civilização . Escolas e hospitais são necessários, mas, do jeito que está, não temos nem uma coisa nem outra. No próximo post, falarei sobre Guerrilla Gardening, um movimento que surgiu em 2004 em Londres como resposta à negligência do poder público e que eu adoraria implantar aqui!

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