Tradução

"O meticuloso exercício da escrita pode ser a nossa salvação" (Isabel Allende, em Paula)

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Coisas pequenas

      Estávamos tomando café da manhã na padaria do bairro, dois dias depois do sumiço de M., quando meu celular tocou. Era ela., querendo saber se eu ainda estava precisando de faxineira.
      - É porque eu falei com uma amiga minha, que disse que pode ir arrumar a casa da senhora.
      Eu não queria mais saber dela, e não só por não ter aparecido no dia aprazado, mas não quis ser rude. Disse que A. já tinha outra pessoa em vista, o que era só em parte verdade. É que o J., zelador do condomínio novo, dissera que sua mulher podia fazer esse trabalho para nós. Foi dispensado justamente porque já tínhamos marcado com uma jovem dias antes, ao passar casualmente e vê-la esfregando uns móveis na porta de uma pousada perto do Centro Histórico. Como ela não conhecia direito o bairro, ficamos de esperá-la na padaria, às 9 horas do sábado. Voltei ao J. e pedi que sua mulher viesse me ajudar, já totalmente esquecida de que marcara com a moça na padaria. E, de repente, eu estava com duas faxineiras. Antes que no sábado, às 9 horas em ponto, elas se descabelassem em frente de casa, ou me passassem um sabão - como é que fui marcar com duas faxineiras no mesmo dia e horário? - nós resolvemos nos dividir: enquanto A. ia  dispensar a moça na padaria (alguma coisa me dizia que ela não ia aparecer), eu ia para o condomínio novo, aguardar a mulher de J. O resultado desse imbroglio não estava no programa - nenhuma das duas apareceu, nem avisou nada, mais um caso bem típico de Paraty.    
      Entre intermitentes visitas do marceneiro - o C., que é um amor de pessoa (um rapaz de seus 36 anos, alto e magro, premeditadamente careca, aparência de italiano mas um manso falar paratiense - , do chaveiro ( um garoto de seus 20 anos, despachado, falante e simpático, sem ser abusivo) - do homem dos toldos (alto, com seu chapeuzinho à la Frank Sinatra, bem vestido para os padrões daqui e também bastante falante) - estamos instalando um toldo abrangendo 1/3 do quintal, a partir dos beirais da cozinha, para proteger a bomba d'água da chuva - e ligações para resolver problemas vários - vamos transferindo, A. e eu, já que estamos sem carro, à mão mesmo, algumas coisinhas para a casa nova, coisas pequenas e quebráveis, eu digo. Espelhos, jarros de vidro, enfeites, essas coisas. Tudo em meio às brincadeiras dos moradores do novo condomínio, cansados de nos ver para lá e para cá, e mudança nada. "Agora vai!", disse a síndica, ao me ver entrar no condomínio ontem, com um quadro (uma foto minha, que A. me deu de presente em um remoto aniversário) embaixo do braço.
      Ela se ofereceu para nos ajudar, enchendo seu carro com nossos pertences (moramos atualmente, como já disse, do lado oposto da rua) e levando-os para nossa nova casa. Quanto aos móveis, A. está contratando um caminhãozinho (do tamanho que dê para passar pelo portão) para levá-los. Devo dizer que os pequenos chalés do antigo condomínio, que tanto me encantaram no início, perderam grande parte de seu charme (ver os posts Metáfora, de 20/11/11 e Chalé, de 1/12/12, em meu outro blog, Anel de pedra verde) e não apenas por causa dos cachorros dos vizinhos, que latem desordenadamente, todos juntos, toda vez que entramos ou saímos de casa. É que o ritmo das obras nas casas que faltam para serem construídas nessa espécie de vila aumentou muito e o que se vê na rua são montes de areia misturada com cimento, toldos protegendo tijolos da chuva e a consequente lama no chão de paralelepípedos. De qualquer forma, faça chuva ou faça sol, lá vou eu com a minha sombrinha verde ou azul, já que não gosto de usar protetor solar. Aliás, parece-me ser a única mulher a usar sombrinha em Paraty. Para não dizer que sou a única, lá uma vez ou outra aparece alguma, mas só pessoas simples, que mantêm esse uso ancestral mesmo agora, em épocas de filtro solar.
     

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