Tradução

"O meticuloso exercício da escrita pode ser a nossa salvação" (Isabel Allende, em Paula)

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Guerrilla gardeners

     
      Plantar árvores e flores em canteiros públicos e cantos de praças maltratados, é proibido? Mais ainda, pode ser classificado como crime?  De acordo com o blog www.guerrillagardening.org, sim. Pelo menos em Londres. Aqui em Paraty, eu não sei. Plantei três pitangueiras de 15 cm de altura, no canteiro central da avenida principal de meu bairro. Foram criadas no quintal de casa, a partir de sementes caídas na calçada, de duas pitangueiras cujos ramos apareciam por cima de um muro de casa, na beira-rio. Elas se adaptaram bem e, daqui a alguns anos, estarão frutificando. Lembram-me a pitangueira do quintal de casa, em São Fidélis, onde passei parte da infância. Plantei também um caquizeiro ou pé de fruta-do-conde, não sei bem. Não fui a primeira: semanas antes, mãos anônimas haviam plantado três amoreiras e dois arbustos que não consegui identificar, no mesmo canteiro. Gosto disso!
     Foi assim que começaram os guerrilla gardeners. Numa tentativa de melhorar as imediações de sua residência, no bairro de Elephant Casttle, o londrino Richard Reynolds cultivava arbustos, flores e até hortaliças, como repolho-roxo, em canteiros pra lá de batidos. Em outubro de 2004, ele decidiu registrar essas atividades em um blog. A ideia não tardou a se espalhar pelo mundo e hoje os grupos espalham por toda a Europa, Estados Unidos e Ásia (nenhum na América do Sul, ao que eu saiba).  As incursões são sempre noturnas (daí a menção a guerrilha), para não serem pegos por gente da prefeitura ou pela própria polícia. De bicicleta, a pé ou de carro, carregados de sacos de terra, pás, ancinhos e plantas. Limpam os canteiros e plantam - girassóis, lavanda, margaridas, rosas, couves e aspargos, para decorar ou para comer. Só que a polícia londrina não está interessada e, certa noite, pegou-os em flagrante, cavando a terra em uma pracinha degradada de Elephant Casttle. Bem que estavam vendo o carro da polícia circular por ali. Logo, cerca de 10 policiais estavam abordando o grupo. "Nunca vi tanta ferocidade por parte de uma força policial, para prender tão pouca gente", relatou Richard no blog. Segundo os policiais, aquele tipo de atividade é considerado "crime contra o patrimônio público". Se insistissem, seriam presos. Tentativas de diálogo não colaram. "Joguem suas ferramentas no chão ou vamos levá-los para a delegacia", foi a resposta.
       "Em nossa defesa, cheguei a citar Al Gore" (conhecido ativista americano sobre questões do meio ambiente), "mas parece que ele não tinha jurisdição sobre Elephant Casttle", ironizou Richard, lembrando que, um ano antes, Gore havia elogiado na TV americana a atuação do grupo. Numa retirada estratégica, foram para o flat de Ben, onde se recuperaram do susto tomando um vinho e deliberando sobre que atitude tomar. A opção, arriscada, foi voltar naquela mesma noite ao local e terminar o trabalho. Dessa vez, não foram incomodados. Algum tempo depois, o grupo elegeu o dia 5 de maio como o Dia Internacional do Plantio de Girassóis. Este ano, cerca de 5.000 pessoas em todo o mundo participaram do evento, plantando girassóis em suas respectivas cidades (aqui no Brasil, ninguém ouviu falar disso, é claro).
      Como pretendo continuar fazendo a festa nos canteiros alheios, informalmente, liguei para a Secretaria de Meio Ambiente daqui, para saber se existe algum tipo de restrição a esse tipo de atividade. Não, não existe lei alguma que a impeça (e adiantaram, no estado também não). A única exigência é de que as espécies plantadas sejam da Mata Atlântica. Fiquei perplexa. Já se vê que apenas as  Secretarias de Meio Ambiente ou Departamentos de Parques e Jardins das prefeituras podem fazê-lo, já que são os únicos a ter acesso legal a essas espécies. Mesmo porque não faz sentido um particular extrair espécimes da Mata Atlântica para plantá-los em áreas urbanas. Mas há uma saída, informou a educada jovem que me atendeu: basta solicitar, na Secretaria de Meio Ambiente, as mudas da Mata Atlântica, que eles têm aos montes, e plantá-las legalmente - fazendo um trabalho que é de obrigação da Prefeitura.
      Digamos que isso significa, na prática, uma proibição informal. Você não pode levar uma pá de jardineiro, mudas de árvores frutíferas ou arbustos floridos (da Mata Atlântica, é claro) e plantá-los, na maior simplicidade, naquele canteiro de terra batida que a Prefeitura não cuida. A contrapartida é que, se o fizer, o poder público não tem condições de impedi-lo, admitiu a funcionária - ou por desconhecimento do ocorrido, ou por falta de funcionários, ou pelas duas coisas, acrescento eu. É aí que entram os guerrilla gardeners. Para os interessados, o blog é o www.guerrillagardening.org, com expressivas fotos das atividades dos grupos ao redor do mundo.
     

Nenhum comentário:

Postar um comentário