Tradução

"O meticuloso exercício da escrita pode ser a nossa salvação" (Isabel Allende, em Paula)

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Neblina

      O sol bate forte nas janelas da sala. Os homens da dedetização trouxeram uma nuvem branca, espécie de neblina espessa que cobriu todo o pátio. Junto aos carros estacionados, jogaram através de tubos e de uma máquina que fazia um ruído constritor, uma neblina branquíssima e fofa, que escondeu os carros, tão compacta que dava para que os homens se afastassem antes que ela os tocasse, como se fosse uma parede branca. Usavam uma máscara contra gases, aquela que deixa você com cara de mosca gigante, um tubo cobrindo parte do nariz e da boca. Começaram dentro de casa, com aplicações nos cantos das paredes e nos ralos. Depois, jogaram a tal neblina no quintal - que virou um quadrado todo branco e fofo. Tranquei a porta dos fundos. Pensei que tinham acabado, mas, lá fora, recomeçou o barulho da máquina, dessa vez expelindo a nuvem por todo o pátio.
      Cercada por todos os lados, tranquei-me em casa, esperando a nuvem maléfica se dissolver, entre os ventos vindos do mar e o oxigênio que desce das montanhas. Doida para cordar no dia seguinte e ver o ar puro novamente e uma neblina de verdade suspensa como uma nuvem no cimo da serra, cobrindo a mata virgem da Bocaina. Almoçamos trancados, para evitar que tais odores cancerígenos entrassem em casa. Ufa! Saímos para ficar o mais longe possível dos cheiros que vagavam pelos cômodos. Voltaremos possivelmente só à noite.
     

Nenhum comentário:

Postar um comentário