Tradução

"O meticuloso exercício da escrita pode ser a nossa salvação" (Isabel Allende, em Paula)

terça-feira, 18 de março de 2014

Cinemateca

       Fomos domingo passado ao cinema na Casa da Cultura. Depois, direto para o Punto di Vino, na Praça da Matriz, comer nhoques. Às vezes sentamo-nos num dos bancos da praça, recentemente reformada com recursos do BNDES e já com aparência velha e desgastada. Não temos a cultura da manutenção em nosso país. É tudo para o já e o agora, aprontar o que for preciso e deixar pra lá. As árvores constantes do projeto - luxuosamente disposto em painéis na antiga praça, para que todos vissem como iria ficar - nunca foram plantadas. Minto: foram plantados quatro arbustos raquíticos, de tronco e galhos finíssimos, num único canteiro quadrado, dos que ficam no entorno da praça. Não eram árvores: ser fossem, iriam, uma vez adultas, disputar um mísero espaço de menos de dois metros quadrados ... ou então nos enganaram com aqueles arbustos magros. Que, claro, rapidamente secaram e só foram substituídos meses depois, por outros quatro tão raquíticos quanto os primeiros.
      Nos canteirões do meio, nenhuma árvore  foi plantada. E olhe que há espaço de sobra. Num dos canteiros do entorno havia sido cortada uma palmeira imperial, dizem que atacada por cupins. O cotoco de tronco continua ali, em nada ajudando na estética da praça. As delicadas flores azuis que cobriam os canteirões morreram e não foram substituídas. Hoje o que existe é terra batida, por onde as pessoas transitam livremente. A aparência, como não podia deixar de ser, é relaxada, decadente. Seria preciso que a prefeitura contratasse jardineiros - isso mesmo, jardineiros, funcionários concursados ou terceirizados - para cuidar das áreas verdes. Gente com conhecimento de causa, com cursos profissionalizantes, e não apenas pessoas cuja ideia de manutenção é cortar o mato dos canteiros e decepar os galhos de árvores até que essa poda mortífera acabe com elas. Porque poda saudável não é isso que se faz no Brasil.
      Bem, entre notícias sobre o avião da Malaylsian Airlines que desapareceu e o referendo na Crimeia - quase 98% da população preferiu serem anexados à Rússia - seguimos nossa vida, andando a pé pela estradinha beira-rio, olhando as montanhas, frequentando restaurantes, pegando táxis quando estamos cansados ou apressados, A. fazendo amigos por toda a parte e eu, ainda, sem nenhuma amizade em vista - a não ser os conhecimentos que faço através dele. Voltada para dentro, esforço-me para parecer - não ser, o que nunca vou conseguir - simpática, mas a personalidade exuberante de A. apaga a minha, e a culpa não é dele. Sou lenta, racional, cuidadosa no que digo ou faço, enquanto ele é estabanado e brincalhão. Outro dia pedi-lhe que deixasse um pouco de espaço para mim - ele concordou.  E o que eu fiz? Disse, à saída do cinema, muito séria, para alguém do evento: - Bom filme! e fiquei nisso.
     Duas palavras. É, como disse Isabel Allenda em seu livro sobre sua filha Paula - "O meticuloso exercício da escrita pode ser a nossa salvação". E eu escrevo.

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