Tradução

"O meticuloso exercício da escrita pode ser a nossa salvação" (Isabel Allende, em Paula)

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Guaranis

      Eles estão aqui do meu lado. Têm entre sete e oito anos e estão sentadinhos na lan house, cada um diante de um computador, os rostos morenos e o cabelo cortado em formato de cuia, a franja lisa caindo sobre os olhos. Mexem desajeitadamente no teclado, ou olham indefinidamente para a tela, onde um único desenho imóvel com as palavras Plants and zombies aparece. Dá para ver que não sabem mexer naquilo, mas têm essa curiosidade, magicamente atraídos para as figuras na tela, como se assistissem a um filme mudo. Saídos das profundezas da história de nosso País, eles mal compreendem o que têm a sua frente, mas sabem que é algo muito bom de ver. Em cima da bancada, bem em frente aos dois computadores, símbolos de sua cultura: um chocalho (uma pequena cabaça com um cabo de madeira envolto por um trançado de palha colorida) e um pequeno cesto de palha.
      Agora se levantaram e - magicamente - fecham a sessão de internet. Imagino a maravilhosa foto que perdi. Melhor que isso, só a cena a que assisti na última Flip (Festa Literária Internacional de Paraty): seis a oito crianças guaranis, entre seis e oito anos, sentadas em círculo no piso da Praça da Matriz. Dentro do círculo, espalhados pelo chão, uma pilha de livros infantis, que eles folheavam avidamente. Creio que se tratava de alguma atividade específica dentro da Flipinha (a Flip para crianças), dirigida a alunos de escolas de maioria indígena, ou mesmo de uma escola inclusiva comum. Comovi-me vendo-os concentrados diante do computador, com seu chocalho, seu cesto e seu olhar ávido sobre as coisas do mundo.



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