Tradução

"O meticuloso exercício da escrita pode ser a nossa salvação" (Isabel Allende, em Paula)

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Alguma explicação

      Quando deixei o trabalho, a intenção era morar em Arraial do Cabo. O encanto daquela praia longuíssima, céu branco de tanto azul, areias largas fugindo para o mar, casinhas expondo panejamentos de cangas coloridas em lojinhas minúsculas, eram o cenário perfeito para, afinal, escrever. Estranhamente, minha preferência por montanhas já não era tão absoluta. Gostei da cidade, mas ainda assim intuía, mais do que sabia, que faltava a Arraial um certo agito saudável, alguma vida cultural. Só fui descobrir isso bem mais tarde, porém. Chegamos a nos hospedar lá duas ou três vezes, e era apaixonante andar por sob a imensidão ensolarada: imaginei mesmo a vida num pequeno condomínio, numa colina à beira-mar... Ao mesmo tempo, há sete ou oito anos frequentávamos a Festa Literária Internacional de Paraty. Comecei a ficar dividida. Curiosamente, porém, A. só falava em Paraty. Percebi, embora ele não o dissesse diretamente, que a cidade era sua preferida.
     A mudança, três ou quatro anos atrás, de Jô e Gui, filho e nora de A., para cá (ficaram apenas alguns meses), nos trouxe, logo após, uma visão diferente da cidade, quase que a de um morador. O golpe de misericórdia foi dado quando o casal nos levou a um pequeno condomínio ainda em construção: as casinhas coloridas das quais já falei, a Serra da Bocaina ao alcance da mão, a estradinha sinuosa à beira-rio... e depois o Centro Histórico, onde finalmente descobri o que faltava a Arraial do Cabo: a inesperada atmosfera de cidade grande em meio ao casario colonial... Fomos visitar a Casa de Cultura: é claro que não vamos compará-la com qualquer instituição cultural de cidade grande, mas tem o tamanho de Paraty, e isso é suficiente. E aí ficamos. Como se vê, não foi amor à primeira vista, mas um aprendizado que continua até hoje.

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