Tradução

"O meticuloso exercício da escrita pode ser a nossa salvação" (Isabel Allende, em Paula)

terça-feira, 27 de novembro de 2012

La forteresse

      De todas as paisagens de Paraty, a que mais me alegra é a da Serra da Bocaina. A Mata Atlântica ainda intocada, erguendo-se do lado oposto da rodovia... ela surge de manhã, com seu verde brilhante, tão próxima que penso poder tocá-la, ora brilhante de sol, ora suspensa na neblina...avistar a Bocaina tão próxima, todos os dias, compensa aquele lado inevitável que os pioneiros devem ter vivido em seu dia a dia, os insetos e animais da mata: sapos que à noite vêm visitar o quintal,  pererecas que saem de dentro de torneiras, lagartixas que caem das paredes e, num arrepio de estranhamento, lacraias minúsculas, pouco maiores que uma unha, que surgem nos lugares mais inusitados: em cima do tanque, sob uma cadeira da sala, sobre a pia da cozinha, dentro da chaleira cheia de água, subindo as escadas para o andar de cima e até mesmo, horror dos horrores, cozida dentro da panela quentinha de um perfumado arroz recém-feito... sabe-se lá como foi parar lá.
      A Defesa Civil, procurada, informou que são inofensivas, apesar dos ferrõezinhos ameaçadores.
      - Mamãe disse que isso é "cachorrinho" e que esse bicho "morde", e fica vermelho - disse um funcionário, logo cutucado por um colega:
      - Não é bem assim, a gente chama eles de "tesourinhas", e são inofensivos. Fiquem tranquilos que não picam de jeito nenhum! disse ele.
      Deu-nos algumas dicas, entre elas espalhar um produto específico no quintal, o que as mantém longe por alguns bons meses. Perdi o medo e agora as chamo carinhosamente de "lacrainhas". (Em tempo, com o tal produto elas desapareceram mesmo).
      A Bocaina me recorda o livro de Errol Lincoln Uys, La Forteresse verte, sobre a saga de duas famílias portuguesas, do descobrimento do Brasil até nossos dias. Trata-se de uma edição da década de 80 já inteiramente esgotada (que, a propósito, não cheguei a ler e que não encontro em sebo nenhum). La Forteresse, é claro, é a Serra do Mar, da qual faz parte a Bocaina. Falarei desse livro no próximo post. Lembro-me também de uma descrição da Mata Atlântica, de um escritor brasileiro, não me lembro se do século XIX ou início do XX, que é absolutamente fantástica. Devo tê-la em casa, da época em que fazia pesquisas para um livro sobre Eufrásia Teixeira Leite, que não cheguei a terminar. Se a encontrar, falarei mais dela. 

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