Tradução

"O meticuloso exercício da escrita pode ser a nossa salvação" (Isabel Allende, em Paula)

sábado, 24 de novembro de 2012

Aqui e ali

      - Pra onde vamos? o taxista disse.
      _ Pizza. Qualquer pizzaria, uma boa pizzaria. O senhor conhece alguma?
     Seguimos pela beira-rio, cenário desconhecido para mim, até o centro da cidade. Perto da rodoviária, ele parou em frente  a uma pizzaria de aparência modesta, aparentemente confiável. Eram 10 horas da noite, o caminhão da mudança demorava, estávamos - meu marido A., meu enteado G. e eu - mortos de fome, após uma viagem de ônibus de quatro horas e meia, Rio-Paraty. Enquanto eles ficavam em casa, aguardando o caminhão da mudança, saí em busca de alguma coisa para comer. Entrei e pedi uma margherita. De novo no táxi, as curvas da estrada no escuro, adivinhando a mata à direita e à esquerda, o silêncio da noite. Saltei em frente da casa, dois andares, um azul desbotado claríssimo, no centro daquela espécie de vila. O caminhão já havia passado pelo portão do condomínio, eles disseram, alarmados. Alguém teve de ir atrás, correndo pela estrada, gritando para eles voltarem. Em 10 minutos estavam descarregando os pacotes, caixotes, caixas, embrulhos. No meio da confusão, caixas e caixotes para todo lado, comemos a pizza e fomos dormir precariamente em cima de camas mal-arrumadas.
      Lembranças sempre foram difíceis para mim. A infância se passou em meio a margens de rio, brigas com crianças vizinhas, mergulhos na água doce, subidas em pitangueiras, jabuticabeiras, caramboleiras e mangueiras, pesca com anzol de alfinete de costura (e não subia peixe nenhum), busca por moedas antigas junto a cercas de quintal, cenas isoladas que me trazem às vezes coisas boas, às vezes não tão boas. Teatro em que todos eram protagonistas, menos eu.   

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