Verão

      São os extremos: chuvas torrenciais seguidas de um sol tão violento que parece grudar-se na pele. Uma sombrinha (chapéu-de-sol, guarda-chuva) é providencial, no inverno, mas parece que sou a única pessoa da cidade a usá-la debaixo do sol. Periga de eu passar a ser conhecida como "aquela mulher da sombrinha", assim como Maria Isabel (proprietária da marca de cachaça que leva seu nome, reconhecidamente a melhor da cidade) é conhecida  por só andar descalça pelo asfalto quente ou pelas pedras escaldantes do centro (sempre bem vestida). A surpresa é maior quando estaciona seu carro e sai descalça (supõe-se que dirige sem sapatos? Eu não sei, porque nunca vi). E, por falar nisso, a Maria Isabel é reconhecidamente a melhor cachaça de Paraty (e, merecidamente, também a mais cara). Não a conheço pessoalmente (a não ser por uma breve conversa em seu estande no Festival da Cachaça de 2011, com A.). Creio poder mencioná-la aqui por tratar-se de figura pública, alvo de várias matérias em jornais do Rio e de São Paulo.
      Uma breve visita a seu sítio produtor, um dia, quem sabe renderá melhores frutos. Por enquanto, contento-me em conversar com Seu Antônio, aquele senhorzinho (deve ter seus 60 anos, mas nunca se sabe) que percorre as imediações do Caborê e do Portal, e sabe-se lá de onde mais, empurrando um carrinho de mão lotado de bananas-prata e... chuchus. Sempre a mesma coisa: ou você compra banana-prata, ou chuchu. Barato e... com o gosto ótimo dos cultivos de quintal. E quando você pensa (preconceito, ninguém está livre de ter um!) que essa figura rústica, rosto marcado pelo sol, chapéu de palha e roupas simples não sabe de nada que extrapole os limites de seu quintal, ele me vem com esta (depois de vender-me bananas durante seis meses, sem uma palavra sobre o assunto): _ Banana do meu sítio, orgânica, sem agrotóxicos! valorizou ele. Paguei pelo preconceito.