Tradução

"O meticuloso exercício da escrita pode ser a nossa salvação" (Isabel Allende, em Paula)

domingo, 24 de março de 2013

Paramine

      Era jovenzinha, os cabelos lisos, negros e curtos, uma blusa branca simples e uma saia vermelha estampada em pequenas padronagens. No colo, um bebezinho bochechudo, pele morena como a da mãe, olhinhos escuros arregalados, não mais que seis meses. Formavam uma linda dupla, ela muito bem arrumada e o bebê também, aparência limpa e saudável. Sem dizer palavra, ficou nos olhando. Estávamos sentados a um banco na Praça da Matriz, de frente para a rua coalhada de bares, restaurantes e mesinhas. A. se apressou a lhe dar uma moeda, tratando-a com carinho, mas distante. Era uma indiazinha de não mais que 16 anos, mãe precoce, um jeito tímido de olhar. Percebi material para uma boa matéria - afinal, nunca se deixa de ser repórter - mas não era bem o caso. Afinal, estou retired e não trabalho para nenhum jornal. Mesmo assim, por puro hábito profissional, peguei caneta e papel e puxei conversa.
      Pesquisando sobre a origem das etnias indígenas de Paraty, descobri que os informantes não se entendem: há referências na região tanto a guaranis quanto a tupis e tupinambás, passando pelo tupi-guarani.  A indiazinha, não mais que 16 anos, expressava-se com dificuldade em português. Sentou-se a meu lado no banco, disse que se chama Danila Fernandes e que é guarani.
      - E em sua língua, como é seu nome? perguntei.
      - Paramine (pelo menos foi o que entendi).
      Paramine e Leramine - o nome de seu filhinho - são da comunidade Aldeia Bracuhy, em Angra dos Reis. Ela e a mãe, que não cheguei a conhecer, vêm de vez em quando a Paraty de ônibus. Ela queria roupas. É claro que não dei, até porque não dispunha delas ali. Ambos me pareceram bem cuidados e saudáveis. O mesmo não posso dizer de alguns indiozinhos que tenho visto, lamentavelmente, pedindo trocados no centro comercial de Paraty. Flagrei alguns outro dia, perto de uma lanchonete, tomando sorvetes e, para variar, pedindo trocados. Estavam bem sujinhos e com dentes faltando. Tirei fotos deles, tomando sorvete e estragando os dentes. Também tirei fotos de Paramine. Pretendo postá-las algum dia. E, se tiver tempo, descobrir mais alguma coisa a respeito dessa bela etnia e de sua vida em Paraty.
      

Nenhum comentário:

Postar um comentário