Tradução

"O meticuloso exercício da escrita pode ser a nossa salvação" (Isabel Allende, em Paula)

quinta-feira, 4 de julho de 2013

No show

      A cultura do no show está tão arraigada na mentalidade paratiense, que duvido algum dia seja possível extirpá-la. Por no show entende-se o passageiro que não comparece ao balcão de check in no momento do embarque. Pela terceira vez, a mulher do J., que iria terminar a faxina deixada incompleta por M., não aparece. Como das vezes anteriores, levantei-me cedo e fui para o novo condomínio, já suspeitando de que ela poderia não vir, sem avisar. Assim que abri o portão, o J. saiu da cabine do vigia.
      - Minha mulher acabou de me ligar, diz que não consegue (sic) sair do ponto de ônibus, está lá esperando e o ônibus não aparece. Vou até ligar pra ela de novo, apressou-se a acrescentar.
      Segui direto para a casa, levar um pacote de livros, deixando-o a pegar o telefone. Pus o pacote no quarto de hóspedes, no segundo andar e já ia sair, quando o J. me chamou do lado de fora da casa.    
      - A F. perguntou se não é melhor ela vir amanhã, porque ela não está conseguindo sair da parada do ônibus!
      - Está bem, mas ela vem mesmo, seu J.?
      - Vem sim, pode deixar.
      - Olha lá, seu J. Com certeza?
      - Vem, sim.
      Estava rindo, o danado. Estou com a impressão de que me adaptei bem ao jeito de ser paratiense, porque não reclamei, sorri também e disse a ele que sim, que ela viesse. Em qualquer outra cidade, do Brasil ou do mundo, essas meninas relapsas e seus no shows já teriam sido demitidas há muito tempo. O atraso de vida que isso provoca é incalculável. Não fosse isso, eu já teria me mudado desde duas semanas atrás, quando ela já teria coberto a falta de M. (que prometera voltar dali a uma semana para terminar a faxina incompleta e não apareceu). Veremos amanhã.

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