Tradução

"O meticuloso exercício da escrita pode ser a nossa salvação" (Isabel Allende, em Paula)

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Madredeus

      Fomos a pé, no domingo à noite, no escuro, até a avenida principal do bairro, em busca do orelhão. Meti o pé no mato rasteiro, imaginando as formigas subindo pela minha perna (há dezenas de formigueiros ali). O taxista chegaria em 10 minutos, mas A. cismou que tínhamos de aguardá-lo em frente ao condomínio, para evitar assaltos e equívocos (um estranho já estava nos oferecendo carona até o centro, talvez um vizinho penalizado pelo casal "de idade" aguardando sozinho no meio da rua). Voltamos para o condomínio (três a quatro minutos de caminhada, no escuro de novo). O taxista, felizmente, chegou logo.
      Fomos assistir ao concerto do sexteto português Madredeus, no grande palco armado ao lado da Matriz. Era o dia 25, encerramento do Mimo Festival, criado em 2004 com a proposta de levar música de qualidade a cidades históricas, como Tiradentes, Ouro Preto e Olinda. Paraty foi escolhida para a apresentação que comemora os 10 anos do festival. Na noite de abertura, que não assistimos, apresentaram-se Herbie Hancock, mito do jazz contemporâneo, e Stephen Micus, da Alemanha, literalmente o homem dos 100 instrumentos Também veio Tarek Al Nasser, da Jordânia, música árabe revitalizada pelo jazz, blues e reggae, o quarteto belga MandolinMan, além de brasileiros como o Duo Milevsky e João Bosco. Sob uma intermitente garoa bem paulista (é, parece que a garoa migrou para cá, o estado de São Paulo fica a apenas 20 quilômetros), valeu a pena ter enfrentado  frio e garoa. 
      Ficamos em pé, em meio à multidão, no espaço em frente à Igreja Matriz. Gente de toda parte, daqui e de alhures: paulistas, mineiros, estrangeiros. Nas cadeiras, apenas os privilegiados que chegaram cedo; pé no chão para o restante do público. As canções de Essência, o disco mais recente do grupo, agradaram, mas o ponto alto do show foi A barca da fantasia, que levou o público às lágrimas. depois que o sexteto está com nova formação: a nova cantora, Beatriz Nunes, não deixou nada a dever à formação original. Mídia do Rio e de São Paulo, nenhuma - vi notícias apenas em edições on line de jornais de lugares tão distantes quando Brasília e Recife, além do Diário do Vale, daqui da região. Por sua qualidade, o Mimo - que seguiu para Ouro Preto - merece tanta divulgação quanto a que a grande imprensa dá à Flip - Festa Literária Internacional de Paraty.    
      Voltando a nossa procura pelo orelhão. Quem vem pela Av. Cândido Portinari, em direção ao trevo de saída para a Rio-Santos, topa com uma escuridão de breu, justamente onde há uma curva sem placa indicativa, bem pronunciada e com desnível para fora. Há pouco tempo, um carro entrou reto nessa curva, destruiu a guia de concreto e foi parar junto a uma cerca de arame farpado, deixando marcas de frenagem no asfalto. Foi a primeira das três ocorrências que vimos. A Av. Otávio Gama, chamada por nós carinhosamente de estradinha, é pródiga em curvas mal iluminadas. Margeando o rio Perequê-Açu, ela liga o centro da cidade até a curva junto à Rua das Margaridas, já dentro do Portal. Daí em diante, chama-se Av. Cândido Portinari (a rua da padaria), só que as antigas placas continuam lá, fagueiras, confundindo carteiros, turistas e moradores do bairro.
      Como disse, em dois anos, pelo menos três carros invadiram calçadas (calçadas teóricas, cobertas apenas por grama e mato). A segunda vez foi justamente na curva em que a Otávio Gama se transforma em Cândido Portinari, perto da padaria. O carro vinha da direita (onde há várias pousadas) em direção à Rio-Santos, atravessou a pista, subiu a guia de concreto, voou sobre o mato rasteiro e só parou no muro de uma casa. O mato e a terra fofa geralmente amortecem a velocidade e diminuem o impacto de um possível choque com cerca, muro, poste ou casa. A terceira vez  foi no domingo passado, à tarde. Tínhamos saído de casa às 3:h da madrugada de segunda-feira, para tomar o ônibus das 3:20min para o Rio, na estrada (junto ao canteirão do poste de luz). Chamei a atenção de A. para as marcas de pneus que atravessavam a pista e se transformavam em profundos sulcos no canteiro gramado, mas, segundo ele, as marcas já estavam lá desde o domingo à tarde.O veículo vinha do centro da cidade, aparentemente procurando a entrada para o Portal, mas foi pego de surpresa pela curva, fechada e não sinalizada. Depois de atravessar a pista, destruiu as guias de concreto do canteirão e mergulhou na terra fofa do gramado, indo parar a meio metro do poste. Ufa! Menos um nas estatísticas!
    
  

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