Tradução

"O meticuloso exercício da escrita pode ser a nossa salvação" (Isabel Allende, em Paula)

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Dia lindo

     O pavão está sobre o móvel de Bali (um misto de estante e mesinha lateral, com cestos de ratan muito fundos), que fica ao lado da mesa da TV. Sim, é aquele mesmo, acusado de breguice, por isso mesmo indicado para ser escondido em um canto qualquer de uma qualquer estante, com suas penas de metal e cauda longa (vide o dia 18/6}. Na casa nova, bem maior e mais clara, ele pareceu encolher e ficou até interessante, salvando-se rapidamente do ostracismo. Claro que Carmen Mayrink Veiga não iria exatamente adorá-lo, mas felizmente ela está a quilômetros de distância.
      Foi uma visita rápida, de Celinha, minha irmã, e sua amiga, a E., uma programação compacta para poucas horas, só para mostrar a E. a cidade, que ela que não conhecia. Chegaram no sábado e voltaram no domingo. Na quarta-feira seguinte, chegaram Jô e Gui, que foram embora hoje à tarde. A. e eu vamos aguardar uma semana e logo em seguida iremos, primeiro a Angra, depois a Campos dos Goitacazes.  Devo pesquisar sobre o distrito de Tocos, onde,na década de 30, existia um quilombo, onde viveu a família de Telma, mãe de A. Pretendo escrever uma biografia romanceada dessa mulher e esquecer a chamada alta literatura, pelo menos por enquanto. Este é um livro mediano, uma espécie de test drive, e me darei por satisfeita se alguém tomar conhecimento dele a ponto de criticá-lo duramente ("mais um lançamento comercial", "a autora perdeu o rumo da trama"...). Telma era mulher, negra e pobre e nesse contexto, na década de 40, foi desvirginada, como se dizia na época, aos 12 anos. Aos 13, teve seu filho, a bolsa d'água se rompendo quando subia em uma árvore, no quintal de casa. Praticamente analfabeta, Telma casou-se com seu ofensor, mudou-se para uma cidade maior e passou a receber em casa, na praia de Icaraí, o governador do estado, jornalistas, desembargadores e a alta sociedade da época. Foi também uma das primeiras mulheres a dirigir um carro em Niterói.
      Vou me divertir escrevendo essa história, durante os próximos meses. Lembro-me de que, na década de 80, todas as vezes em que passava pelo monumental prédio do Jornal do Brasil, na Av. Brasil, 500, na descida da ponte Rio-Niterói, eu comentava com A.:
      - Um dia eu ainda vou trabalhar ali.
      Repórter da Última Hora, depois de ter passado pelo O Fluminense e pelo O Globo, trabalhar para o JB, na época o mais prestigiado jornal do país, era, mais do que uma meta, uma certeza. Tenho a mesma sensação agora, de que esse livro sobre a história de uma mulher simples, cheia de defeitos e por isso mesmo tremendamente humana, vai me dar muito prazer. Se será publicado... ele será publicado.
     Como os assuntos se acumularam, devo dizer que a querida faxineira do no show não compareceu novamente na data marcada. Se insisto nesse assunto é porque não consigo me acostumar com essa derivação cultural inexplicável. Encerro o assunto.

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