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"O meticuloso exercício da escrita pode ser a nossa salvação" (Isabel Allende, em Paula)

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Crianças, fotos

      Virou moda, na internet, publicar em mídias sociais fotos tiradas do fundo do baú, de quando o autor do blog ou usuário do Twiter ou Facebook era criança, num saudosismo que não combina muito com a tão propalada modernidade dessas mídias. Se eu fosse acompanhar,  ficaria em dúvida sobre qual foto minha escolher. Vamos lá: na que é a minha preferida, apareço de uniforme colegial: saia azul-marinho de alças e pregas largas, blusa branca, sapatos fechados pretos, franja reta até os olhos e enorme pasta de couro, cujo tamanho já fazia adivinhar o peso do conteúdo. A aparência é solene, marco de passagem para a entrada na primeira série da escola pública (sem jardim da infância antes, coisa da época). Creio, aliás, que esse termo caiu em desuso. Outra preferida é aquela em que apareço, com uns nove anos, em uma pracinha de interior, de pé diante de uma fonte tipo repuxo, a mão direita sobre a... baratinha, como se dizia na época. "Você estava com vontade de fazer xixi", disse minha mãe, sobre minha carinha angustiada. Acho que o esguicho da fonte tinha tudo a ver com isso.
      Existe ainda a foto de quando eu tinha uns dois, três anos: uma menina bem apanhada, de laço na cabeça, rosto contraído pelo sol, perninhas grossas cruzadas, sentada sobre, talvez uma pedra, ou um banco. Se quiser sofisticar, posso usar a foto clássica dos três irmãos, eu, Celinha e R., tirada antes do nascimento do outro irmão, também R. Posada, típica de profissional, feita em estúdio, em plano americano, digamos assim: do busto para cima, muito arrumadinhos, os três muito sérios diante da câmera, o fundo sépia, acentuando o jeito antigo. Já éramos mais crescidinhos e eu, a mais velha, uma pré-adolescente. Mas, para ser sincera, não acho graça nessa história de postar fotos de infância. Acho até estranho esse saudosismo extemporâneo. É como se as pessoas estivessem saturadas da exposição múltipla de suas fotos nas mídias sociais, do excesso de imagens disponíveis a um simples clique. Seria bom, quem sabe, voltar a um passado em que não existiam Facebook, Twiter, Instagram, Orkut... e dezenas, centenas, milhares de fotos, a vida documentada a cada minuto, sem cessar. Uma foto de infância parece que faz parar o tempo, cessar todo esse burburinho, nem que seja por alguns segundos... que alívio!
      Prefiro ficar no presente mesmo.
            

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