Tradução

"O meticuloso exercício da escrita pode ser a nossa salvação" (Isabel Allende, em Paula)

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Ida a Campos

        Fomos a Campos, aqui no RJ, na semana passada. As pessoas se espantam quando dizemos que vamos ao Rio, uma viagem de quatro horas e meia, frequentemente. Essa durou nada menos que nove horas e meia, incluindo a ida ao Rio (quatro horas e meia), mais o percurso Rio-Campos (cinco horas de viagem). Percursos sincronizados: chegada ao Rio por volta das sete da manhã e embarque para Campos às oito horas. Em lugar da paisagem de água, mar e montanha e mata densa entre Paraty e Rio, aqui o que existe são as planícies rasas e as montanhas muito redondas e lisas, de um verde-claro. Se não há florestas, também não há canaviais. Nem um só. Pegamos um táxi da rodoviária até o hotel. Antigão, o Hotel Palace funciona num prédio histórico tombado e, internamente, parece um labirinto. Difícil achar seu caminho, entre corredores estreitos, portas, saletas e espaços abertos. Café da manhã sem graça. E cadê o açúcar mascavo, produto da região, encontrável em tudo que é bar e restaurante no Brasil inteiro?... Não tinham. Disse ao garçon que sugerisse ao chefe do bufê a inclusão do mascavo no café da manhã. E o melado? Outro delicioso produto da terra. Ambos têm tudo a ver com café da manhã.
      A principal razão da ida a Campos foi uma primeira visita à Biblioteca local, para pesquisa sobre o distrito de Tocos, onde nasceu Telma, a mãe de A. Afrodescendente, ela nasceu em um remanescente de quilombo, na década de 30 e, já adolescente, veio sozinha para Niterói, tornando-se uma espécie de soi-disant  feminista. Sua infância difícil (teve seu primeiro filho aos 12 anos e sua bolsa d'água rompeu-se quando brincava em cima de uma árvore) não impediu que se tornasse, já casada, e por méritos próprios, uma espécie de socialite local. Costumava ir ao antigo Cassino Icaraí, frequentado pela elite local e recebia em sua casa governador do Estado, para altas festas, desembargadores, parlamentares, jornalistas e escritores. Foi uma das primeiras mulheres, se não a primeira, a dirigir um carro na cidade.
      Pretendo contar a história dessa mulher. Uma segunda ida já está marcada para Campos, para iniciar a pesquisa. Talvez conte com a ajuda de um pesquisador local. Vamos ver o que vai  sair disso.

Nenhum comentário:

Postar um comentário