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"O meticuloso exercício da escrita pode ser a nossa salvação" (Isabel Allende, em Paula)

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Mais poda? Socorro!

      Chegou, como eu previra, uma nova turma de trabalhadores da Prefeitura. Parecem um bando de formigas gigantes: máscaras protetoras, cortadores de grama afiados como garras, chamativos uniformes cáqui cobrindo todo o corpo, protetores de cabeça com óculos saltados (evitar que eventuais ciscos de grama cortada voem para os olhos, daí a aparência de formigas). Dois deles seguravam pelas pontas uma enorme faixa de plástico negro, que esticavam na vertical ao longo do canteiro, aparentemente para evitar que pedaços voadores de grama atingissem os carros que eventualmente passassem. Não, nada de gente socando a terra com primitivas enxadas e vassouras!
      E a poda maluca recomeçou. Imagino que caiam mais galhos de árvores do canteiro central. A impressão que tenho é de que, variando conforme os dias da semana, as equipes não fazem a menor ideia do trabalho umas das outras. E todas, diligentemente, mostram do que são capazes, raspando o chão com máquina zero, o que deixa a terra careca, e abatendo galhos de árvores como um cabeleireiro doido metendo a tesoura nas madeixas das clientes. Tremendo aparato, pífio resultado! E, já que o local influencia no global, imagino que isso nada mais é do que, em ponto infinitamente menor, o que acontece na floresta amazônica e na Mata Atlântica (aliás, estou sempre batendo na mesma tecla, mas é que sou muito emocional a esse respeito).
        Por falar nisso, a Avaaz.org (rede de campanhas globais on line, que tem o saudável propósito de mobilizar a sociedade civil global de maneira que esta possa influenciar em questões políticas internacionais) acaba de lançar uma de suas muitas campanhas para salvar o planeta. Imagino se isso ainda é possível. A própria Avaaz (que já conta com 36 milhões de membros no mundo inteiro), entra em contradição involuntária: mesmo que essas campanhas influenciem os governos a tomar medidas a favor do clima, agora, ainda temos tempo? A própria Avaaz responde, ao postar (à guisa de estimulo para as pessoas aderirem à campanha) links para textos como os abaixo:
       "Derretimento de geleiras gigantes ultrapassou ponto de retorno, dizem cientistas" (Folha de S. Paulo):
      "Nasa afirma que derretimento de geleiras na Antártica é irreversível" (revista Galileu);
       "Prepare-se para o ponto em que não haverá retorno sobre o clima" (Político, em inglês);
      "Com a evolução  científica, dúvidas sobre mudanças climáticas desapareceram" (revista Época).
      Se as mudanças climáticas já são consideradas praticamente irreversíveis (e, no meu entender, a população já está sendo sutilmente preparada para a catástrofe, tanto através de matérias como essas, em jornais e revistas categorizados, científicos ou não, como de matérias pagas, que têm saído ultimamente em revistas populares), de que adiantam, a esta altura, campanhas para minimizar seus efeitos?
      Melhor voltar para o meu microcosmo de plantas, canteiros e podas. Hoje à tarde saberei se minha árvore ainda existe como tal, ou se virou um melancólico toco emergindo da terra nua!

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