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"O meticuloso exercício da escrita pode ser a nossa salvação" (Isabel Allende, em Paula)

sábado, 2 de agosto de 2014

Flip

      Escrevo no terminal de computador do Instituto Moreira Salles, no Centro Histórico, perto da Praça da Matriz. A Flip, iniciada na quarta-feira, já encheu a cidade de turistas. Temos assistido a algumas mesas literárias e aproveitado das coisas boas que pipocam por toda a parte. Numa cidade lotada, é difícil escolher entre tantas atrações. Uma delas é o centro de recepção do Instituto Moreira Salles, onde, durante o dia, o público é recebido com cafezinho, capuccino, biscoitos, vinho tinto e de quebra, à noite, pequenos (no tamanho) shows. Nos intervalos, compramos livros e CDs.
      Houve mudanças no evento Flip. A tenda do telão, que com a tenda dos autores, atraía um público de milhares de pessoas, confortavelmente instaladas e ao abrigo do sol e da chuva, já não está mais na Praia do Pontal. Foi praticamente cancelada, no meu entender, porque instalar dois ou três telões (menores, por sinal) no exterior da tenda dos autores ou junto à cafeteria ou ainda, na Praça da Matriz, simplesmente retirou bastante do brilho do evento. Agora há apenas uma tenda, a dos autores, em formato diferente, menor e com aparência totalmente sem graça. Para a organização do evento, está tudo bem: a capacidade da sala é a mesma (pode ser, mas perdeu-se metade da capacidade, com a retirada da tenda do telão) e "a tenda nova é mais comprida e a visibilidade do palco vai melhorar". Só rindo. A visibilidade do palco, na tenda anterior, era excelente. Não havia o que mudar.
       Os operários aprovam. Segundo eles, a nova tenda é bem mais fácil de montar. Mas o que os operários têm a ver com isso? Ouvi comentários negativos sobre as mudanças. A impressão é de que a Flip encolheu.
      Aproveitei a festa para distribuir exemplares de meu livro A casa antiga ao público em torno das tendas (ou melhor, tenda). Quem quiser lê-lo, é só pedir através deste blog (através dos comentários). O lançamento desse livro foi realizado em 2010 na livraria da Travessa, no Rio. Deixei exemplares sobre o balcão da cafeteria da Tenda dos Autores, com autorização, é claro. Sumiram rápido. Quando os entrego pessoalmente, as pessoas tendem a desconfiar de venda e a primeira reação é a recusa. Nada contra - eu também faço isso às vezes. Acho que me confundiram com algum escritor participante da Flip: tirei fotos, dei autógrafos, recebi elogios. As pessoas ficaram encantadas.
      Assistir às palestras deixa-me com um intenso sentimento de frustração. Lembra-me essa festa, com seu colorido, a escritora frustrada que sou. Terrível substituição essa, esse auto-engano que, ao mesmo tempo que me reconcilia comigo mesma, mostra o tamanho de meu abismo pessoal. Apud Fernando Pessoa: "Sei que não sou nada/ nunca serei nada/ não posso querer ser nada.// À parte isso, trago em mim todos os sonhos do mundo".

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